Barricada by Rafael Fajiolli de Oliveira

Barricadas são barreiras construídas com amontoados de objetos de fácil acesso e suficientemente consistentes para obstruir uma passagem específica. Fragmentos de concreto, partes de máquinas, pneus, pedaços de móveis, barris e sacos de areia são exemplos de materiais utilizados nesses constructos improvisados.
Na maioria das vezes, essas estruturas foram e são erguidas pelo povo em resposta à alguma forma de opressão vinda do poder vigente. Para alguns teóricos políticos e escritores, como Mikhail Bakunin e Victor Hugo, as barricadas simbolizam a resistência ativa do povo contra sistemas opressivos. Uma frase marcante em Os Miseráveis, de Victor Hugo, provoca reflexão: “tratando-se da pátria, alista-se; tratando-se da liberdade, levanta barricadas”. Bakunin vai além, entendendo que as barricadas criam, mesmo que por poucos instantes, espaços físicos de liberdade, lugares onde o sistema dominante não tem poder.
Gosto de expandir essa ideia para o plano psíquico. O lugar de maior segurança que construímos ao longo de nossas vidas é a identidade. Assim como as barricadas, a identidade também é formada pela conexão de fragmentos, mas, nesse caso, esses “objetos” são elementos que encontramos em nossas experiências: a cultura, os valores familiares, as artes, as comidas, os costumes, os lugares comuns. Nesse sentido, as identidades, assim como as barricadas, formam lugares de segurança e, em certo nível, até de liberdade.
Por outro lado, barricadas e identidades têm seu lado negativo. Barricadas são construídas em momentos de violência, obstruem passagens, e, por isso, também podem simbolizar a opressão. Da mesma forma, identidades tornam-se perigosas à medida que se inclinam para o estereótipo, para o retratismo e, consequentemente, para o preconceito.
A imagem da barricada e suas possíveis interpretações metafóricas, estão presentes de muitas maneiras nas obras que constituem esse disco; estão nas formas, nas estruturas, nas narrativas, nos materiais e nas escutas.

Tracklist

1.	Matiz 4 (versão eletrônica)	6:32

2.	Dramédia	8:24

3.	Barricada	6:30

4.	O banquete	8:32

5.	Astronautas em Nazca	8:23

6.	Quarentena	5:04

7.	Demônio de Laplace	4:37

8.	Anton Webern no País das Maravilhas	6:24

9.	Pinheirinho	9:59

10.	Rebo	9:36

Credits

released December 2, 2024

Composição e obra: Rafael Fajiolli de Oliveira
Masterização: Alexandre Soares
Publicação digital: Arte Estranha

License