Microorganismos by Thelmo Cristovam

Devido a natureza deste trabalho, recomendo escutar em um sistema de som ou com fones de ouvido circunaurais/fechados. Caso escutado nos falantes de laptops/desktops, a esmagadora maioria das informações sonoras serão inacessíveis.

Microorganismos: Trabalho de arte sonora baseado em princípios matemáticos/biológicos e utilizando como guia, alguns aspectos básicos da psicoacústica.

Venho desenvolvendo e construindo esse trabalho desde 2000.

Possivelmente agora chego as versões finais, tanto da redução estereofônica quanto a versão em 12 canais e sua contraparte linear de sete horas continuas.

Ele é constituído, em principio, de uma contraparte sonora de um trabalho/instalação audiovisual, cujo video ainda está sendo montado.

Um breve estudo aqui: vimeo.com/album/2764298/video/71536488

Essa contraparte audiovisual deverá, deveria(?), ter também algumas versões diferentes. Seis canais em video simultâneos de oitenta minutos e uma outra versão de sete horas contínua.

A obra como conceito foi desenvolvida a partir de uma idéia abstrata de como soaria o movimento dos micro organismos onipresentes. A idéia é uma contemplação acusmática de sons de movimentos inaudíveis de organismos que se encontra em toda parte, nossa pele é completamente recoberta por eles, por exemplo.

A aparente imobilidade de tais seres foi um fator decisivo na composição dessa obra, refletida nas longas e etéreas sessões de movimento sonoro constante e que se desdobram muito lentamente em outras sessões com quase as mesmas características, perceptíveis somente àqueles que se entregarem durante algumas horas à escuta em completo silêncio e concentração.

De certo modo, a obra é uma imaginária descrição sonora desse mundo microscópico, seus entes e constituintes.

A técnica usada foi baseada em uma transformação clássica da teoria das equações diferenciais ordinárias, EDO, o Baker’s Shift (deslocamento do padeiro), na qual, como é indicado pela nomenclatura, consiste em esticar e dobrar sobre si mesmo o objeto em estudo, no caso das EDO, funções ou sistemas dinâmicos.

Caso o objeto trabalhado ocupasse espaço no mundo, ou seja, fosse material, esse tipo de transformação teria que ser limitado por um número superior de "esticamentos" e dobraduras, pela própria estrutura física da matéria, mas, por exemplo, no caso de uma função ou sistema dinâmico, as transformações podem perdurar ao infinito, porém, quase toda a informação contida no objeto inicialmente será perdida, não se poderá fazer o caminho contrário para a recuperação das informações, por esse motivo, essa transformação foi uma das portas de entrada para um ramo dos sistemas dinâmicos dentro da Matemática, denominada Caos Determinístico, popularmente conhecido como caos, como um nêmesis gerado pelas próprias estruturas internas dos sistemas.

Sendo o objeto usado nessa obra, áudio transformado em informações digitais, as transformações também podem perduram ao infinito, isso dependia somente de onde eu gostaria de parar de usar recursivamente essas transformações. Aqui gostaria de esclarecer um ponto, o som usado como matéria prima pra essa obra, gravações de diversas fontes sonoras, são materiais, elas ocupam um lugar no espaço físico, espaço-temporalmente falando, e estão subjugadas as mesmas leis que impediriam a transformação do padeiro infinitamente em qualquer objeto palpável, porém as transformações foram feitas não no som em si, mas no seu correlato digital, que são processos binários, tão abstratos quanto entes matemáticos, portanto, não tive limites para o uso da técnica.

A técnica foi usada tanto nos arquivos trabalhados completos como nos seus constituintes, sendo as transformações depois de passos recursivos, deslocadas de transformações para transformações de transformações e de subconjuntos de transformações e todos esses conjuntos e subconjuntos de transformações influíam mutuamente em todos os passos e entre si como transformações. (Desculpem o uso repetido, mas achamos estritamente necessário como argumento).

Bem, essas transformações, esticar e dobrar sobre si mesmo, tiveram um grande impacto estético na minha imaginação de como certos organismos se reproduziam e alguns dos exemplos clássicos desse tipo de reprodução eram justamente algumas classes de micro organismos. A pergunta era qual o limite no qual isso poderia ocorrer e se modificou até o questionamento tornar-se o uso dessas transformações para usar matéria prima sonora, como, por exemplo, transformar som gravado do transito em uma avenida de um grande centro urbano em pleno meio dia, em sons que parecessem indicar uma representação sonora de um mundo microscópico.

A obra, que venho desenvolvendo e construindo desde 2000, é principalmente um exercício de experimentar aspectos da psicoacústica, como espacialização, percepção táctil do som, preenchimento espacial, percepção de freqüências inaudíveis, percepção sonora fantasma criada pelo vácuo, sendo preenchido mentalmente por sons que não se encontram realmente na fonte sonora.

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